Sistema de Londres é incomparável

Em entrevista ao ForumRio.org, Luiz Firmino, diretor de saneamento da Câmara Metropolitana e responsável pelo desenho das PPPs, defendeu o sistema como uma estratégia utilizada no mundo inteiro. Países como Alemanha, Estados Unidos e França usariam esse tipo de tecnologia. “Londres é toda em tempo seco. Eles estão agora fazendo um túnel chamado Tingau para receber o que vaza: quando der chuva e degelo, o que transbordar vai ser levado para o túnel e o túnel vai levar para mar aberto”, disse ele em abril.

Volschan é enfático, no entanto, ao afirmar que a tomada em tempo seco não pode ser comparada ao que existe em Londres e outros locais de clima temperado, o chamado “sistema unitário”. Nele água da chuva e esgoto escorrem pelas mesmas tubulações, mas com manilhas projetadas para tal. “[O sistema unitário] foi uma solução dada três mil anos antes de Cristo, no tempo de Roma, e também das grandes cidades europeias, como Paris, Londres, Hamburgo. Sua concepção é baseada numa lógica, ninguém nunca havia pensado em separar essas águas. No final do século 18, início do século 19, é que a engenharia evolui”, esclarece. A separação das redes acontece pela primeira vez em Memphis, no EUA, em 1880.

Para Volschan a concepção dos sistemas unitários não tem justificativa técnica e seria inviável no Brasil, em função do clima tropical e do regime de chuvas. A média pluviométrica anual da capital inglesa é de 46,5 mm, ao passo que a da cidade do Rio de Janeiro chega a 110,5 mm (média de 1997 a 2013). Além disso, há temporais na RMRJ com chuvas de 50 mm por hora, chegando a 100 mm/h, como houve em março deste ano. “Hidraulicamente é impossível termos um sistema unitário”, frisa.

O engenheiro civil Paulo Carneiro, pesquisador da Escola Politécnica e do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, segue a mesma linha de raciocínio. “Os sistemas unitários do Hemisfério Norte não são comparáveis, porque lá os sistemas nasceram assim, têm a ver com a história com que foram implantados. Para fazer na RMRJ de forma eficaz, e não somente em tempo seco, teria que ter sistemas com dimensões muito maiores. Isso seria inviável pelas proporções, e ainda teria que ter desapropriações por causa da ocupação nas calhas de rios”.

Carneiro observa, no entanto, que o investimento inicial na captação em tempo seco na RMRJ continuará útil mesmo após a universalização do acesso à rede separativa. Segundo ele, alguns países que já implantaram o separador absoluto hoje começam a se dar conta da importância de sistemas complementares para tratar poluentes de fontes difusas. “Há situações em que você coloca rede separadora, mas não despolui”, ressalta.

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